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Performance Teatro experimental

Danças do Abismo

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Imagem que faz parte do vídeo exibido (Marcelo Gabriel/Arthur B. Senra).

Assistir a uma cena de Marcelo Gabriel é sempre uma experiência singular – quase um privilégio. Primeiramente porque o artista somente se apresenta uma vez ao ano na própria cidade em que reside, Belo Horizonte (MG). Depois – e o mais importante – porque estamos diante e junto de uma poética do corpo que vem, ao longo dos anos, adentrando nos próprios abismos.

O título Danças do Abismo 2, então, não poderia ser melhor para expressar o que se seguirá. Aqui nos deparamos com um trabalho despojado, tanto em relação ao figurino, quanto à cenografia, no qual Marcelo Gabriel experimenta o limiar que perpassa morte e loucura. 

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Geral Performance Site-specific Teatro experimental

Domingo, com Cida Falabella

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Imagem: Jornal O Tempo.

Domingo, de Cida Falabella, ocorre na casa da atriz/performadora, no Bairro Serrano, em Belo Horizonte.  Porém, pelo menos para mim, a experiência já havia se iniciado antes.  Pois uma coisa é deslocar-se em direção a um espaço destinado às artes, outra é ir ao espaço encontrado. No caso, aquele em que uma pessoa habita. Principalmente porque a casa – a morada – não foi esvaziada da ocupação cotidiana, e então transformada pela ocupação artística. Pelas informações anteriores, sabia que adentraria no espaço real de uma vida. Mas o que isso significa?

A cena se inicia com os convidados – pois esse tipo de cena é antes de tudo um convite – dispostos no jardim e quintal da casa, quando a atriz/performadora está de pé, próxima à parede do fundo, num gesto de entrega.  E ali, daquele lugar, vocalizando um texto poético e introdutório, ela abre o encontro. 

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Geral Site-specific Teatro Físico

A cena site-specific: uma definição por Mike Pearson e McLucas

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Brith Gof : Haearn – Imagem: .http://www.culturecolony.com/artlogs?p=2690

 

Mike Pearson é um artista e pesquisador de teatro físico e performance site-specific, autor de vários livros sobre o tema. Entre outras parcerias, fundou com Lis Hughes a Brith Golf em Aberystwyt (Reino Unido), em 1981 e que durou até 1997. Ele desenvolveu pesquisas com Michael Shanks sobre teatro e arqueologia, e com o teórico e artista visual, Cliff McLucas. A companhia trabalhava com criações híbridas, envolvendo música, cenografia, texto e ação física. Eles se concentravam especialmente em espaços encontrados, fora dos circuitos tradicionais de exibição artística.

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Composição Dança Contemporânea Geral Teatro experimental Teatro Físico

A poética corporal de Rasante

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Imagem: Guto Muniz: http://www.focoincena.com.br/

(ra.san.te)

1. Que passa muito próximo do solo.

2. Diz-se de fortificação cujos muros são baixos.

3. Diz-se de tiro disparado mais ou menos rente ao solo.

4. Voo rasante (1).

[F.: rasar + -nte.]

Dicionário Aulete

 

Rasante me traz sensações e, ao mesmo tempo, elementos fecundos para a pesquisa de linguagem – de um teatro de imagens produzidas pelos corpos, de uma dança intensiva e da constituição de atmosferas. Tem a direção do ator, bailarino e coreógrafo Sérgio Penna e a participação dele e dos atores-bailarinos-criadores Gabriella Christófaro, Bernardo Gondim, Lourenço Marques e Grace Passô.

A cena é classificada como dança. Tudo bem, isso serve para os editais, para os projetos de circulação etc. Na verdade, é inclassificável, como afinal toda arte que pode produzir afecções em você. E que por sua beleza – sim, o belo como força de deslocamento – também vai muito além dos gêneros artísticos. Tem uma poiesis do corpo – e dos meios que o atravessam e o tangenciam. São bailarinos-atores ou atores-bailarinos – tanto faz: cabe aqui essa descrição de Eugênio Barba.

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Intervenção urbana Performance

Performance e liminaridade: conversa com Marcelle Louzada

Uma boa conversa com Marcelle Louzada, acompanhada do músico Philipe Lobo. Marcelle agora mora em Fortaleza, onde estuda, prepara-se para o doutorado e trabalha com dança e performance.  Falamos de nossos projetos, estudos etc. Entretanto, predominou o assunto sobre os espaços das cidades, o corpo, o confronto com os padrões de comportamento e os modos de produzir significados, a estética e o real.

Marcelle contou-me que ela já havia realizado muitas sessões de dança, composição e improvisação em espaços públicos. Mas que não sentia força, sentido de apropriação, diálogo com a cidade. Não que trabalhar com movimento e criação ao vivo, em ambientes abertos, não fosse interessante. Mas ela sentia falta de algo. Só foi encontrar quando passou a condensar, posso dizer assim, uma corporeidade questionadora, capaz de produzir atritos, choques, rupturas. No dia Internacional da Luta da Não Violência Contra a Mulher, 25 de novembro, quando mulheres do mundo se encontram para discutir questões do gênero feminino, cultura e políticas públicas, segundo Marcelle, ela faz uma performance urbana bem agressiva:

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Composição Performance Teatro experimental Teatro Físico

Vazio e forma no ator compositor

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“Ó Sariputra, aqui a forma é o vazio e o vazio é a forma;/ tudo que tem forma é exatamente o vazio e tudo que é vazio é /exatamente a forma.”

Sutra do Coração da Grande Perfeição da Sabedoria (Índia, séc.1D.C.) Versão do Mestre Zen Ryotan Tokuda.

Eu andava fascinado com duas ideias que eram, obsessivamente, buscadas e exercitadas: os espaços e os vazios. Não só nas minhas oficinas de teatro, mas também em mim mesmo eu criava um laboratório para realizar experimentações.  Observava, além disso, os movimentos das artes marciais e as brincadeiras corporais das crianças (de repente, um mergulho rápido num espaço vazio que se abria…). Um dia, Jória Lima, que havia participado como consultora de dramaturgia em Fabulário me disse assim: – Vejo que você está buscando uma criação com uma outra coisa que não é comum na maioria dos exercícios de atuação teatral. Posso chamar isso de uma prática de espaços?

Foi então que eu entendi o que procurava. Algo que estava cada vez mais distante das modalidades do teatro de personagens dramáticas. Percebi também que eu não trabalhava mais com interpretação, mas sim utilizava outra coisa: a noção de composição – como já me alertara Gil Amâncio, músico e artista cênico, parceiro de muitas inquietações. São estudos compositivos, dizia ele. Outra pessoa notou que eu me aproximava da dança. Mas, então, teatro e dança têm realmente que vir separados? Interessei-me pela Performance, numa interface com o Teatro Físico.

Um dos exercícios básicos de composição,  que então passei a desenvolver, intitula-se Vazio e Forma. O nome vem do Budismo Zen, de uma citação do Sutra do Coração da Grande Perfeição da Sabedoria (Índia, séc.1 D.C.). O sutra, também chamado de Prajna Paramita, relaciona forma e vacuidade e sua mútua interdependência. 

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Geral Teatro experimental

Discurso do coração infartado

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Imagem:Ricardo Júnior – divulgação

Fui ver o solo de Silvana Stein, Discurso do coração infartado, que tem direção e dramaturgia de Ricardo Júnior e da própria atriz. Sai tocado pelo cuidado, pela técnica, pela sensibilidade e beleza deste trabalho.  Além disso, não é todo dia, também, que podemos estar ali, diante de uma artista que está em pleno processo de amadurecimento – o que, para nós, significa verter a flor com a maestria de artesão. E que se entrega de corpo e alma através de uma linguagem. Aliás, lembro mais do que nunca, aqui, de Maurice Blanchot: a linguagem é o lugar da atenção.

Entregar-se, é preciso dizer mais uma vez, não é estrebuchar-se. Dario Fo, o grande dramaturgo e diretor, diria de outro modo: um bom ator é como um bom nadador: não joga água fora da piscina! Silvana nada com maestria.

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Dança Contemporânea Geral Improvisação Performance Teatro Físico Teatro pós-dramático e performativo

Nigel Charnock (1960-2012): uma entrevista sobre teatro físico

 

“Eu e Lloyd começamos o DV8 porque a gente não entendia a dança. Então, nós éramos bailarinos treinados e a gente ia a espetáculos de dança e nos sentíamos completamente por fora.”

Fiz essa entrevista com Nigel Charnock em 2005, um dos fundadores do DV8 Physical Theatre. Tiago Gambogi fez a tradução ao vivo, realizando também algumas intervenções. Nigel estava em Belo Horizonte para ensaios e apresentação de Made in Brasil, espetáculo dirigido por ele e com atuações de Tiago e Margaret Swallow. Na ocasião, eu preparava minha dissertação sobre improvisação e teatro físico. Nigel nos deixou no dia 02 de Agosto deste ano. Um artista ainda jovem, de muito talento e energia criativa. Um achado, para mim, é o modo como Nigel relata a questão do corpo na dança moderna, no teatro dramático e no teatro físico.

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Composição Geral Improvisação Performance Teatro experimental

Tempo e composição cênica – Parte I

Imagem: Tomàs Rotger: http://www.tomasrotger.com/

 

A experiência do tempo na performance

O tempo como experiência direta, como o sensível sobre o qual se opera a composição no instante. Pois foi na abordagem das velocidades e lentidões, da duração e da repetição, que encontrei as entradas para uma dramaturgia de estados (passagens para o plano das intensidades). Isso ocorreu ao mesmo tempo em que o desenvolvimento dramático deixou de se impor às criações corporais em flutuação e que emergiram das oficinas e cursos de improvisação. Um pensamento que se faz, igualmente, provocador da própria mise en scène.

E tão aliado quanto provocador dessa deflagração corpórea flutuante, o tempo tornou-se um fluxo operatório e expressivo – um caminho compositivo. Acrescente-se a esse espectro a questão do tempo como elemento que dialoga com o performador – como um co-atuante.

Começo, então, pela seguinte pergunta: qual a estruturação ontológica da experiência do tempo de uma determinada performace? 

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Composição Dança Contemporânea Geral Performance

A Projetista: uma política do desejo

Quando é que um corpo-artista realiza um encontro com a técnica, de tal modo que esta deixa de ser uma defesa diante da vida e de seu estado precário? E em que a polaridade “corpo” e “artista” desaparece ou não faz mais sentido?  Não porque tudo aquilo que nos ameaça, tendo por resposta um arcabouço qualquer, se dê necessariamente por vencido. Mas sim porque tais coisas passam a fazer parte do assombro de viver como jogo e signo. A Projetista, de Dudude, coreógrafa, bailarina, performadora e atriz, traduz isso.

Porém, não é  fácil dispor de si como signo, ao modo do abandono de si.  Pode até acontecer de repente, mas leva muito tempo. Tempo que também se perde, já que a vida escoa e os projetos não se transformam por si mesmos em encontros. Para lembrar Proust, citado por Dudude no espetáculo, diria com Deleuze que é preciso também perder tempo: