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Nuvens de Chumbo: vestígios do (in)visível e do (in)dizível em cena – por Yan Brumas

Yan Brumas Balgárd é ator, intérprete musical, pesquisador em Artes e História, Diretor e produtor de espetáculos cênicos. Neste texto ele apresenta um ensaio crítico sobre a peça Nuvens de Chumbo, encenação de minha autoria e colaboradores(as), para a formatura do Curso Técnico de Ator do Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado – julho de 2025.

Imagem de Paulo Lacerda

Um teatro de formação pode, por vezes, surpreender pela ousadia com que enfrenta esferas complexas da linguagem e da história. É o caso de Nuvens de Chumbo, espetáculo de formatura do Curso Técnico em Arte Dramática do Centro de Formação Artística e Tecnológica (CEFART), da Fundação Clóvis Salgado, apresentado em julho de 2025, na FUNARTE-MG. A montagem toma como ponto de partida memórias da ditadura civil-militar brasileira, evocando-as por meio de uma dramaturgia fragmentária, imagens poéticas e uma fisicalidade ancorada no treinamento do ator. O título já anuncia uma atmosfera carregada, não apenas de sombras e pesos históricos, mas também de inquietações políticas, afetivas e pedagógicas.

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Performance Teatro experimental

Danças do Abismo

marcelo
Imagem que faz parte do vídeo exibido (Marcelo Gabriel/Arthur B. Senra).

Assistir a uma cena de Marcelo Gabriel é sempre uma experiência singular – quase um privilégio. Primeiramente porque o artista somente se apresenta uma vez ao ano na própria cidade em que reside, Belo Horizonte (MG). Depois – e o mais importante – porque estamos diante e junto de uma poética do corpo que vem, ao longo dos anos, adentrando nos próprios abismos.

O título Danças do Abismo 2, então, não poderia ser melhor para expressar o que se seguirá. Aqui nos deparamos com um trabalho despojado, tanto em relação ao figurino, quanto à cenografia, no qual Marcelo Gabriel experimenta o limiar que perpassa morte e loucura. 

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Composição Formação Geral Improvisação Teatro experimental Teatro Físico Zonas de Experimentação [ZnEx]

Os diálogos físicos: estratégias para compor com o outro (01)

Farm in The Cave – Theatre Studio

 

Num artigo anterior abordei a natureza dos diálogos físicos. Apresentei alguns de seus traços principais e os campos nos quais se inscrevem: o teatro pós-dramático, o teatro performativo, a utilização de procedimentos working in progress e, mais especificamente, o teatro físico. Falei de algumas fontes de inspiração e pesquisa (os movimentos de crianças), bem como de seu caráter de composição no instante. Aqui, pretendo expor algumas estratégias para improvisar/compor com outro, desenvolvidas por Miranda Tufnell, coreógrafa, bailarina e performadora britânica (veja em Referências). As proposições não se limitam à dança, pelo contrário. Estamos no campo de uma cena expandida, na qual as fronteiras entre as artes encontram-se borradas. 

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Composição Formação Geral Improvisação Teatro experimental Teatro Físico

Os diálogos físicos: um exercício em improvisação e composição

‘Extraordinary’ by f.a.b. – The Detonators Photography by Toby Farrow www.tobyfarrowphotography.com

Fisicalidade

Os diálogos físicos poderiam ser também chamados de diálogos corporais. Chamo de “físicos” porque há toda uma ênfase na fisicalidade das trocas, dos contatos e contágios estabelecidos entre os participantes desses “diálogos”. O termo ainda coloca-nos diante – e dentro – daquilo que está emergindo no nosso espaço de atuação, envolvendo a qualidade de nossa atenção, nossos impulsos e relacionamento com o outro, o espaço e o tempo.

Os diálogos físicos colocam toda sua carga naquilo que Lúcia Romano, na obra dedicada ao Teatro Físico, chama de corpo manifesto e materialidade cênica. Trata-se também de um teatro de fluxos pulsionais, para utilizar um termo de Patrice Pavis. Não sendo a mesma coisa, me inspiro na ideia de uma “arte de não interpretar como poesia corpórea do ator”, conforme desenvolvido por Renato Ferracini, no livro homônimo.