Por Mariana de Lima e Muniz [1] e Luiz Carlos Garrocho [2] –
Resumo: O artigo aborda a performance urbana a partir de uma pesquisa que se fez na implicação mútua entre o campo teórico e o da experimentação artística, na qual o lugar e o convívio são tomados como práticas espaciais, participando como tais no engendramento da tessitura cênica. Nessa perspectiva, mais do que inserir um objeto ou ação artística no ambiente urbano, tratou-se antes de conceber os possíveis de uma zona temporária de interstícios, na qual se dão as interpenetrações entre as presenças e as texturas da performance e do real. Isso significa que a performance urbana traça territorialidades em meio a outras territorialidades, realiza ocupações junto a outras ocupações. Os espaços da cidade surgem, de um lado, à luz das práticas que os consubstanciam; de outro, na alteridade radical que eles carregam enquanto espaços encontrados: tanto em relação aos espaços previamente destinados à apresentação artística, quanto no sentido de que trazem consigo uma realidade própria e, por essas vias, por possibilitarem brechas de contraposição e de inversão dos usos e sentidos hegemônicos (*).
(*) Publicado originalmente na Revista Cabaret Filosófico n. 3 – Abril de 2016 – o qual encontra-se aqui na íntegra, com algumas pequenas modificações.
Dos mapeamentos conceituais enquanto genealogia das linhas de força
Tomar a performance urbana como prática espacial é dizer, antes de tudo, que ela difere de uma apresentação artística nos chamados espaços públicos da cidade. Em que os habitantes/transeuntes desses lugares deveriam, necessariamente, interromper as práticas espaciais em que estão envolvidos, para assistir a uma cena. Ao contrário, o equacionamento expressivo passa a levar em conta, seja por emergência e/ou escolha do campo de ação, aquilo que se coloca em curso no movimento constitutivo da espacialidade. Esse é o princípio axial de uma performance que se processa não tanto no espaço, mas principalmente com o espaço.