O problema
Seria possível performance sem pelo menos uma testemunha? E não seria esse possível algo radicalmente distinto da realização artística singular que é a cena? Pois a própria definição do que viria a ser uma ação performativa -e digamos por extensão, cênica – não exigiria a presença compartilhada de uma testemunha, ao vivo, em tempo real e em um território?
Tal é o que nos lembraria Jorge Dubatti, ao falar do que ele chama de convívio cênico. Erika Fischer-Lichte por sua vez igualmente frisa essa característica, definindo a performance cênica como um processo de retroalimentação contínua (feedback) entre artistas e espectadores. Ou seja, estamos diante de uma arte que é por definição encontro presencial em um cruzamento temporal e territorial – no aqui e agora. Algo que ocorre no entre de uma relação e não em.
Por tudo isso, não havendo pelo menos a presença de uma testemunha, tal realização seria outra coisa que não uma arte da cena. Faria sentido, nesse caso, atuar sem ao menos uma testemunha? Se admitirmos a hipótese, que encontro seria esse que se caracterizaria por um não encontro com um observador ou testemunha?
Propõe-se, aqui, pensar o exercício de uma poética ao modo da ação – a performance cênica – sem testemunhas físicas e presenciais. E que não se negue, por princípio, as formulações de Jorge Dubatti e Erika Fisher-Lichte acima explicitadas. Que essa poética continue a ser de características presenciais – ao menos uma presença: a do ator/atriz. Daí que, justo nessa perspectiva, possa haver um encontro de outra natureza, não necessariamente com um parceiro atual, mas com um parceiro virtual, como mostrarei mais adiante. E acrescento: que poderia inclusive fazer parte de um treino em criação – melhor, diria, de um cultivo dessa arte de ator/atriz – de performadores e performadoras.